O mistério de uma moça que todas as noites ia à praça, sentava-se no banco e aquietava-se ao admirar as estrelas. A moça de trajes humildes e cabelos resplandecentes tinha emoção e transmitia a todos uma sensação que tocava cada coração que por ela passava. Ninguém conseguia descrever o sentimento transmitido por ela. Minha casa em frente àquela praça permitia-me observá-la a todo e qualquer anoitecer, uma esplêndida visão de uma brilhante luz que reluzia em seu rosto e o seu sorriso parecia dizer-me: "Venha, sente-se comigo!", mas eu permanecia com a cabeça fora da janela, apenas a observando dali. A moça contava as estrelas uma por uma, ficava sem compreender o porquê, meu desejo ardente era saber a resposta, mas tinha medo de descer para com ela conversar. Certo dia ela fez um movimento com as mãos chamando-me para ir ao seu encontro, meneei a cabeça indicando que não. Porém, ela não se conformou e permaneceu a me chamar, apontando para o alto como se tivesse algo a me mostrar. A curiosidade roubou o meu medo e finalmente desci para descobrir o imenso mistério. Entretanto, para a minha decepção, não havia nada de interessante, além de estrelas.
– O que você queria mostrar-me?–perguntei, incompreendida.
– Olhe! Repare como brilham! – disse ela apontando para o céu.
– Você me chamou só pra ver isso? Pensei que tivesse algo mais interessante. – disse frustrada.
– Mas é muito interessante. Observe, uma brilha mais do que a outra. – completou, com um sorriso no rosto.
– Eu já estou cansada de ver estrelas! Eu as vejo desde que nasci. Não vejo nada demais nelas! – exclamei.
– Não são bonitas?
– Sim. São lindas. Mas ficar parada olhando pra elas é perda de tempo.
A moça abriu um sorriso e continuou a sua observação.
– 100, 101, 102, 103... – contava ela.
– Diga-me uma coisa: por que você as conta se são infinitas?
– 110, 111, 112, 114... – continuou ela sem ao menos responder-me.
– Você não se perde? – questionei-a.
– Não – respondeu.
– Como não? Todo mundo se perde.
– Se perdem porque não contam com o coração. 132, 133, 134...
– Responda à minha primeira pergunta: por que você as conta?
– 150, 151, 152, 153... – continuava ela com um sorriso intacto em sua face. Minutos se passaram e ela não respondeu à minha pergunta inicial.
– É impossível contar todas elas! – exclamei em alta voz.
A moça virou o rosto para mim e disse-me:
– Sim. Não há como contá-las. Mas demorarei quanto tempo for necessário e caso me perca irei recomeçar.
Impressionei-me com suas palavras, mas já estava tarde e estava ficando com sono.
– Irei embora. Tenho que dormir. – disse despedindo-me. Não ia aguentar ficar apenas olhando-a contar infinitas estrelas.
– Pode ir, querida!
Fui embora. Porém, pela janela do meu quarto fiquei observando-a por algum tempo antes de pegar no sono. Na noite do dia seguinte não mais a encontrei ali. Passou-se uma semana e estranhei sua ausência, já que tinha o costume frequente de sentar-se à praça. Desci as escadas e sentei-me no banco a fim de avistá-la. Esperei, esperei, esperei, mas ela não apareceu.
De repente encontrei no chão um papel dobrado. Ao abri-lo li:
“Comece agora, desde já a contar as estrelas e se caso tudo dê errado, recomece. E se der errado de novo, recomece. E se der errado mais uma vez, recomece. E se você já estiver cansado de tentar, não desista, recomece! Caso tenha perdido as esperanças e visto que é impossível, não largue de mão, recomece. Recomeçar é o primeiro passo para subir montanhas. Contadora de Estrelas”
Através dessas palavras de encorajamento que passei a contar as estrelas. E quando me perdia sempre recomeçava. Sabia que era impossível e não havia como chegar ao fim de uma conta infinita, mas não era esse o verdadeiro propósito. Havia entendido o que tudo significou. E agora estava na hora de recomeçar.
OBS.: Hi guys! Esse é um dos contos inseridos em meu primeiro livro: Storytelling: A imaginação tem sabor, da Coleção Immaginare. É um livro com vários contos e crônicas. Previsto para ser lançado em Dezembro deste ano. Bom, apenas coloquei-o aqui no blog pra vocês ficarem por dentro e darem uma espiadinha.
Beijos a todos!